sábado, 30 de julho de 2011

amputado [14]

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invariavelmente o mundo torna-se um lugar de solidão. há alturas na vida em que tens de assumir o comando, quando tudo em volta se tornou breu e os assomos de lucidez escasseiam. invariavelmente sós. um resumo do mundo.
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«Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia... e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.»
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fernando pessoa
roubado daqui
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sexta-feira, 29 de julho de 2011

amputado [13]

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Vocês sabem lá
que tormento é viver sem esperança
e ter coração
coração que não dorme nem cansa
Não há maior dor nem viver mais cruel
que sentir o amargo do fel
em vez de mel,
vocês sabem lá
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maria manuela bravo (vocês sabem lá)
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.mendes e joão só (oiçam que sabe bem)
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quarta-feira, 27 de julho de 2011

amputado [12]

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tenho metade do coração hipotecado
à incerteza,
à espuma do arrastar do tempo.
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o amor é um bálsamo
cuja ausência não se esbate
num fim de tarde à beira mar.
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sexta-feira, 15 de julho de 2011

amputado [11]

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não entres nesse comboio amor
que vai rumo a essa terra longe
onde as pessoas almoçam de pé
e nem sequer dizem olá
por isso vai por mim,
não entres nesse comboio amor
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Não lhe atendas o telefone amor
ele só te vai trazer amargos
isso é porque ele não gosta de ti

e tu ainda gostas de mim
Por isso vai por mim
não lhe atendas o telefone amor
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vai por mim
a cidade não te assenta bem
vai por mim
não deixes que te assentem
cimento no coração (...)
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mendes e joão só
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quinta-feira, 14 de julho de 2011

amputado [10]

As tuas mãos nas minhas.
O incrível miraculoso de eu dizer o teu rosto.
O ardor de um meu dedo na tua pele. Na tua boca.
O terrível dos meus dedos nos teus cabelos.
O prazer horrível até à morte da minha entrada no teu corpo.


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Virgílio Ferreira
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quarta-feira, 13 de julho de 2011

amputado [9]

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A contas com o bem que tu me fazes
A contas com o mal por que passei
Com tantas guerras que travei
Já não sei fazer as pazes
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São flores aos milhões entre ruínas
Meu peito feito campo de batalha
Cada alvorada que me ensinas
Oiro em pó que o vento espalha
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Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda
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Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda
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Ensinas-me a fazer tantas perguntas
Na volta das respostas que eu trazia
Quantas promessas eu faria
Se as cumprisse todas juntas
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Não largues esta mão no torvelinho
Pois falta sempre pouco para chegar
Eu não meti o barco ao mar
Pra ficar pelo caminho
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Cá dentro inqueitação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Mas sei
É que não sei ainda
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Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer
Qualquer coisa que eu devia resolver
Porquê, não sei
Mas sei
Que essa coisa é que é linda.
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josé mário branco por jp simões
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segunda-feira, 11 de julho de 2011

amputado [8]

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foi no pôr-do-sol da vontade
que me tornei escravo da saudade.
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esvaziar-me da ilusão, eis
a dura realidade.
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sexta-feira, 8 de julho de 2011

amputado [7]

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Estou dentro de paredes brancas,
Quatro paredes: a minha cela,
O frio, a solidão e o meu catre.
A luz entra sempre de noite.
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Não tinha nada donde vim. Aqui não encontrei
O que tive e a cadeira não serve o meu repouso.
Ainda não há lugar no mundo onde possa sossegar de tu não seres
O vazio que persiste à minha beira.
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Tenho um pequeno sonho de uma janela para abrir;
E que paisagem não seria estar feliz!
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Daniel Faria
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roubadíssimo daqui
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quarta-feira, 6 de julho de 2011

amputado [6]

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já não te aguardo,
adio-me
(...)
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valter hugo mãe
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folclore íntimo
livro nono, pp. 205, cosmorama, 2008
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terça-feira, 5 de julho de 2011

amputado [5]

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Não, as palavras não fazem amor
fazem ausência
Se digo água, beberei?
Se digo pão, comerei?

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Alejandra Pizarnik
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roubado daqui

sexta-feira, 1 de julho de 2011

amputado [4]

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Quem sabe ainda vibrará em teus ouvidos
Uma voz macia a recitar muitos poemas...
E a te expressar que este amor em nós ungindo
Suportará toda distância sem problemas...

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guimarães ramos rosa
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