segunda-feira, 30 de julho de 2012

last zöe space

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Precisava de falar-te ao ouvido
De manter sobre a rodilha do silêncio
A escrita.
Precisava dos teus joelhos. Da tua porta aberta.
Da indigência. E da fadiga.
Da tua sombra sobre a minha sombra
E da tua casa.
E do chão.
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inédito de daniel faria. poesia
edição assírio e alvim
pp. 20
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um inédito para vocês. neste dia especial.
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quinta-feira, 26 de julho de 2012

poeta

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Sabes, leitor, que estamos ambos na mesma página
E aproveito o facto de teres chegado agora
Para te explicar como vejo o crescer de uma magnólia.
A magnólia cresce na terra que pisas – podes pensar
Que te digo alguma coisa não necessária, mas podia ter-te dito, acredita,
Que a magnólia te cresce como um livro entre as mãos. Ou melhor,
Que a magnólia – e essa é a verdade – cresce sempre
Apesar de nós.
Esta raiz para a palavra que ela lançou no poema
Pode bem significar que no ramo que ficar desse lado
A flor que se abrir é já um pouco de ti. E a flor que te estendo,
Mesmo que a recuses
Nunca a poderei conhecer, nem jamais, por muito que a ame,
A colherei.
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A magnólia estende contra a minha escrita a tua sombra
E eu toco na sombra da magnólia como se pegasse na tua mão
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quarta-feira, 25 de julho de 2012

li na bloga

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Com o primeiro aprendi que o amor verdadeiro afinal também acaba.
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Com o segundo aprendi que o amor, mesmo o amor todo que se tem, afinal não chega.
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Com o terceiro aprendi que há histórias de amor (talvez as mais bonitas, talvez as mais especiais) que nem são para começar.
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Agora não quero aprender nada
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roubado daqui
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mantenho entre o segundo e o terceiro passo.
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recuso-me é a desistir de aprender.
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terça-feira, 24 de julho de 2012

salamaleko

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achei por bem passar aqui para vos avisar de que, mais logo no canal 2 - «a dois» - passará um dos melhores documentários que vi. foi no dia 25 de abril que passei o dia a ver documentários e, graças «à dois», este foi dos que mais me marcou.
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e há mais nos dias seguintes à mesma hora.
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shukran
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terça-feira, 10 de julho de 2012

a poesia da derrota

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Talvez, sim, exista uma espécie de subtil poesia na derrota, no futebol como em outras actividades humanas – no amor, por exemplo, ou no trabalho. Não há como ignorar a dignidade dos onze que abandonam a relva de cabeça baixa, com o olhar apontado à biqueira das chuteiras. A derrota inibe o derrotado, esmaga-o, e planta nele uma angústia e uma melancolia amargas (coisas que, normalmente, se dissolvem no banho). No domingo seguinte, como na próxima jornada de trabalho ou na próxima paixão, o derrotado regressa ao palco do fracasso e tenta, outra vez, a sua sorte. Volta a acreditar. E isso é já uma forma de ser poeta (ou louco, que é um pouco a mesma coisa).
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segunda-feira, 9 de julho de 2012

sábado, 7 de julho de 2012

i will always have paris [2]

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Não, penso, o mundo que eu queria que recomeçasse a existir em torno a mim e a Franziska não pode ser o vosso; queria concentrar-me para pensar um lugar em todos os seu pormenores, um ambiente onde gostasse de me encontrar com Franziska neste momento, por exemplo um café cheio de espelhos em que se reflictam lustres de cristal e uma orquestra toque valsas e os acordes dos violinos venham serpentear por cima das mesinhas de mármore e as chávenas fumeguem e haja pastéis de nata. Enquanto lá fora, do outro lado dos vidros embaciados, o mundo cheio de pessoas e de coisas faria sentir a sua presença: a presença do mundo amigo e hostil, as coisas com que nos alegramos ou contra as quais nos batemos... penso-o com todas as minhas forças mas já sei que elas não bastam para fazê-lo existir: o nada é mais forte e ocupou toda a terra.
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Italo Calvino, in "Se numa Noite de Inverno um Viajante"
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roubado daqui
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sexta-feira, 6 de julho de 2012

abdução [2]

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estava aqui a pensar que tinha de fazer o meu primeiro passaporte. o mais rápido possível. as oportunidades para viajar aparecem à velocidade da luz, haja disponibilidade, e se não o tenho em mãos, arrisco-me a perder um comboio que vai para sonhos. ontem foi marrocos, anteontem já era moçambique. se bem que eu iria era para nova iorque, buenos aires, moscovo, pequim ou tóquio. lá chegará o seu dia, espero eu.
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(vou viver
até quando eu não sei) *
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há uns cinco anos atrás decidi mudar a minha vida. (não foi tudo, mas agora vai o resto). viajar. não quero o restolho da minha vida pintado a negro. quero-o, definitivamente, azul. apanhei-lhe o gosto. barcelona (ai, ai), madrid, veneza (la più bella cittá), pisa, milão, florença, ljubljana, viena, praga, cracóvia, aushcwitz (ainda escrevo isto à primeira), munique, zurique, vaduz, génova, roma, lyon, st. étinne, avignon (oh, os campos de alfazema da provença), paris, bruxelas, roterdão, nijmegen, utrecht, amsterdão. ufa. e madeira. linda a madeira.
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(a vida é sempre uma curiosidade
que me desperta com a idade
interessa-me o que está para vir) *
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agora a viagem é outra.  tenho uma interior mais difícil de fazer. não há voos diários, os acessos são inclinados, e as esquinas são escuras. o diálogo (monólogo) terá de ser permanente. e o papel. escrever os rasgos luminosos da paisagem, das ruas onde mudei a minha forma de estar. deve ser esta a receita dos doentes da fala. andamos todos perdidos de desabafos. ninguém fala. ninguém ouve. então escreva-se mais, com a melancolia presa nos dedos, e nas mãos os sonhos ainda despertos.
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(a vida em mim acende uma certeza
que nasce da minha riqueza
do meu prazer em descobrir) *
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à espera de godot é que não vou ficar. é dor de crescimento. menos dramatismo, mais acção. apenas uma vez vacilei a olhar para trás. mas nem uma vez renegaria aos princípios basilares do amor-próprio. o que faltou gradar há cinco anos atrás avança agora a toda a força. ao menos sirva para acordar para os sussuros abafados no ruído. há segredos a serem revelados. basta ouvi-los.
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(encontrar
renovar
vou fugir ao repetir) *
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no final da peça, à espera de godot, os dois amigos perguntam-se se devem partir. dizem que sim, mas ficam parados.
eu não.
eu vou.
para onde ainda não sei. sei é que não vou pelos mesmos caminhos. fugir ao repetir. siga.
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quinta-feira, 5 de julho de 2012

fascínio [3]

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a dada altura da minha vida escrevi como um desalmado.
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escrevia mesmo sem uma musa inspiradora. embora fosse difícil, conseguia imaginar uma mulher que me fascinava e me levava aos longínquos espaços da imaginação. era uma mulher sem rosto. mas era uma mulher com as qualidades suficientes de me pôr a levitar, levando-me a estabelecer conecções com a aurora boreal das palavras.
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consegui assim libertar-me das palavras turvas que necessitava despojar para vislumbrar o caminho certo. não terá sido suficiente.
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está na hora de procurá-la de novo. terá ela ainda vida no meu subsconsciente?
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quarta-feira, 4 de julho de 2012

adeus tristeza, até depois

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despediu-se de mim a dizer que não suportava mais o meu pessimismo.
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eu despedi-me a dizer que era possível. desde o dia que mudou a minha vida, que me decidi a tornar tudo possível.
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um pessimista, assim tão pessimista, alguma vez vê uma solução no horizonte?
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terça-feira, 3 de julho de 2012

doente de literatura [2]

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enrique vila-matas - o mal de montano (pp.207)
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once a scout, always a scout

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àquela entidade que gere este mundo (vulgo deus): esta manhã ia descansado trabalhar e tive de fazer sinal de paragem a uma senhora que ia com um pneu furado, sem se ter apercebido. obviamente que a minha consciência não me ia permitir deixá-la sozinha a trocar um pneu, em plena via rápida, perigosa tarefa. vim trabalhar todo sujo e cheguei atrasado.
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mas é como costumam costumam dizer, temos de ser uns para os outros não é? espero ver-te por aí. obrigadinho e um abraço.
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(diz que há uma versão de montserrat caballe, mas esta é a melhor)
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segunda-feira, 2 de julho de 2012

domingo, 1 de julho de 2012

cartas a um velho escritor (ao contrário de rilke)

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"O amor deslumbrado do jovem escritor pelo velho escritor que será um dia é ambição na sua forma mais louvável."
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V. Nabokov
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tenho de começar a escrever em definitivo. há sempre uma boa história para contar. e há também isto, tenho 31 anos. «Coleccionei muitas misérias pelo caminho». deviam servir para alguma coisa.
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(enrique vila-matas - o mal de montano (pp.189)
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