quinta-feira, 27 de junho de 2013

eis o hino

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eis o hino da esperança. mais uma luta com renovada e inspiradora motivação. alea jacta est.
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terça-feira, 25 de junho de 2013

questo e' l'ombelico del mondo

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É incrível a liberdade que um homem ganha no dia em que é capaz de reduzir as suas ambições.
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vou procurando desnatar a vida. já não me preocupo que ela azede por vezes. não haveremos de ter mais retorno só por nos preocuparmos apenas com a procura do que se apelida de felicidade. as convulsões emocionais só têm um sentido, tal como nunca choverá do chão para o céu.
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(sempre estes conceitos herméticos)
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reli alguns textos antigos e sinto-me cada vez mais envergonhado com a lentidão da evolução da qualidade do que debito em letra (felizmente com menor frequência). servir-me-ia muito mais apenas sorrir ao ouvir as estórias que me contam, e nos momentos que vivo. como se o silêncio fosse o garante de que os contornos da realidade fossilizassem no imediato.
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(e no entanto persisto em escrever estas atoardas)
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não me será difícil conquistar o último bastião. a plena liberdade da não-dependência. a ambição final de nada querer possuir. nada material me serviu a contento, e, se mesmo assim a última quimera - o desejo único de possuir a pedra filosofal, o querer em redoma um objecto-amor - se mesmo assim se confirmar ser impossível possuir pouco, então esse será o dia do triunfo.
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(saltar do cavalo e deixar de perseguir moinhos de vento ou dulcineias)
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liberto dessa última ambição, restar-me-á a terra. e a cada apelo à natureza ouvir o pulsar do cordão umbilical.
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segunda-feira, 24 de junho de 2013

domingo, 23 de junho de 2013

misantropia amputada

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reservo-te o amor futuro
como se antecipada visses roubar-me este mel
a arte e a vista da minha janela.
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disponho-me sobre os lírios
como se antecipasse o teu amanhacer
e os orvalhos estendidos na paisagem
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é que nesta tela só tu és um espaço em branco.
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sábado, 22 de junho de 2013

don't look back in anger (II)

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oiço os velhos. como se fosse um rigoroso e atencioso sr. sammler, este velho amigo já esteve em armação de pêra. 1979. deus é sempre grande, mas garanto que as mudanças que ocorreram em portugal nos últimos anos são bem maiores.
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(quem não sabe escutar os velhos não sabe ler uma história bem contada)
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diz-me que naquele tempo escasseava tudo. não havia lojas, nem mercados, nem shoppings, nem bares. apenas tascos e pequenos cafés. havia filas intermináveis para se comprarem os bens mais essenciais (até a água escasseava nas torneiras, ou sabia a sal!). era um agosto intenso, um algarve que valia aquele sacrifício. diz-me que era mais pelas crianças e que as suas alegrias compensavam as longas viagens (noites inteiras para chegar ao sul, sem esquecer que depois de alcácer do sal não havia mais bombas de gasolina e tinha de levar o leite em pó).
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(a nacional 2 tinha um betuminoso rugoso de semi-penetração - é engenheiro este sammler, aplica-se na arte e na explicação)
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não havia uma viagem que não tivesse um furo ou uma necessidade de recorrer ao kit de reparação rápida, e toda a gente percebia um pouco de mecânica. havia muitos acidentes porque não havia auto-estrada para lisboa, nem para o algarve. o tormento era amenizado pela garantia de que o sol não se absolveria de ditar a temperatura certa.
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(vou sorrindo porque mal consigo imaginar como seriam os finais de 70, povo renascido da revolução e do fmi, cavalgando na promessa de uma vida melhor)
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termina dizendo que a dada altura desisitiu do algarve porque era mais barato ir para o sul de frança. passar férias em parques de campismo da europa na sua caravana. conto-lhe que ainda se continua bem em armação de pêra. que nada escasseia. nem bares, nem lojas, nem dinheiro.
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(será sempre o meu destino favorito)
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sexta-feira, 21 de junho de 2013

don't look back in anger

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rumorejam ondas ao embalo do encanto do planeta do sr. sammler. as gaivotas rasam planas por sobre os barcos que chegam da pesca. a luz natural reflecte-se nos parágrafos densos da escrita de saul bellow. lê-lo mais uma vez é como voltar a casa, àquela voz familiar, àquelas meditações profundas, àqueles ditames quase bíblicos.
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(philip roth dizia que o seu amigo saul bellow escreveu sempre o mesmo livro, e que bastaria estar atento para perceber isso)
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o sr. sammler é um velho judeu (sempre eles) que viveu em londres e na polónia da 2ª grande guerra mundial. assiste depois à decadência da nova iorque dos loucos anos 60 (desta vez não é chicago, mas o pano de fundo são os mesmo bairros inseguros) e reflete sempre sobre o conflito de gerações e o desvanecer dos valores éticos, a falta de visão de futuro da juventude, a sua falta de respeito pela sabedoria dos mais velhos, os seus prazeres imediatos, a sociedade do hiper-consumo (qual lipovetsky emancipado) e os barcos atracando em armação de pêra.
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(a realidade e a ficção entrecortando-se, o ruído da cidade e areia da praia no mesmo plano metafísico, metro e motas de água no mesmo plano visual)
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é mais leve a apreensão das mensagens quando estamos tranquilos. nenhuma descrição cruel de uma cena no livro nos afecta tanto com aquele tempo maravilhoso, somos livres do mundo, estamos fora do alcance da grande mão destruidora de infinitas possibilidades da lei de murphy. e no entanto condoemo-nos das injustiças, e os nossos olhos desviam-se de repente para os destinos destas pessoas sorridentes que se divertem. há um final mais ou menos desastroso para cada um, e felizmente ninguém se detém nesse pormenor.
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(saul bellow nunca é um misantropo, nem muito pessimista, tem apenas a realidade e a infinita sabedoria dos grandes filósofos, que nunca se angustiam perante os sucedâneos da idade vetusta)
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quinta-feira, 20 de junho de 2013

mess

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vou compreendendo as passagens mais estranhas de murakami, os loucos e desconexos trechos de livros como aquelas da crónica do pássaro de corda. há sempre gatos (mas isso há em todos), e há sempre pessoas desaparecidas, num novelo sem fim, numa narrativa que não se fecha, deixando-nos algumas vezes a pensar onde terá ido parar aquela personagem tão simpática. e depois há a destruição da tridimensionalidade das personagens, como se fosse possível imaginar aquela gente imaginada tornar-se real, e, depois delas se materializarem, o autor fazer-nos sofrer na pele a travessia de paredes e as angústias físicas da certas aventuras.
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mas o que mais impressiona neste livro é talvez o prazer inexplicável de um personagem que desce ao fundo de um poço, e lá dentro se deixa ficar a passar horas a fio. em meditação, analisando a sua vida, buscando explicações para a realidade no local menos propício.
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mas, como dizia, começo a perceber melhor estas passagens. não haverá como bater no fundo, como chegar ao resto dos nossos dias, como se descer lá e buscar os pedaços de vida que vamos largando, fosse a solução para construir um novo futuro. como se colando essas porções de passado estivéssemos preparados para ouvir com mais clareza. e nesse fundo de poço estaríamos mais calmos, ouvindo o coração da terra, pressentindo a luz escassear e ao mesmo tempo ver com mais sanidade.
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talvez a questão de fundo seja apenas uma, sair desse poço é uma opção pessoal. mesmo que o medo de descobrirmos o nosso eu mais profundo nos paralise.
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terça-feira, 18 de junho de 2013

ways to say goodbye

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rumei ao sul de comboio, rasgando paisagens de imagens sobrepostas na correria. foi a primeira vez que atravessei o país inteiro, norte a sul como uma centrífuga que mistura a meteorologia e nos devolve o sol.
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(não há forma de esquecer certos vícios da memória, as imagens que marcam mais que uma fotografia)
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depois da rusga encarrilhada ao espírito aventureiro, chega a luz, e o calor. chegam as praias de manhã fresca, de corridas duras e arrastadas, de lutas contra a rotina, das bolas de creme, dos livros salpicados de areia, do cheiro da pele com bronzeador, de mulheres semi-nuas, das guitarras (ah, sim como vão longe as mundos que desabito), das promessas de vitalidade, do pôr-do-sol, as loiras, a orografia revisitada, a brisa suspirada pelas ondas, os acidentes naturais, e todos os cheiros, sons e sabores.
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(acordar nestes dias parece-se com o milagre da devolução da juventude)
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e à noite as luzes da rua, com miríades de pessoas em processo de ebulição, o verão em ponto-de-partida, as bebidas, os sorrisos, as gerações em osmose permanente, os aromas fugazes, os sonhos, a lua-pomes, os olhos claros em raides sedutores, o juízo final em festa, uma espécie de apocalipse em simulacro, a esperança do salto no escuro do amor.
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(como podemos estar tão deslocados do mundo, e esperar nele a ressurreição da alma-poeta?)
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mas mais tarde há a ressaca, o regresso, a agonia de um ritmo cardíaco a acelerar, o castigo do corpo pelos pecados do sonho, o túnel que se fecha e desliga a luz na nossa passagem, o novo dia-a-dia que suspende a emoção, a máscara que esconde a alegria de uma perda inevitável.
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(mas o que fica é sempre maior que a memória)
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segunda-feira, 17 de junho de 2013

«we read, we travel, we become» *

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Caminho com o sol e com a chuva
Caminho com a escuridão e com a estrada
Os pinheiros e os regatos as pedras e a paisagem
caminham comigo incessantemente
e levemente também eles soçobram
também eles deixam as suas pegadas
onde a poeira levanta e nunca baixa
onde, diz-se, todos os encontros se dão
E como se tocasse a todos encontrar-se
continuamos a procurar-nos como cães de caça
Por isso de lama e amor se faz a caminhada
e na estrada o vestido pesando quase nada sinaliza o corpo
como uma bandeira sinaliza a paz durante a guerra
e eu libertando-me a pouco e pouco da bagagem

libertando-me a pouco e pouco da tua miragem
vou perdida e encontrada na berma do sol.
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ana salomé
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* título roubado daqui.
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sexta-feira, 7 de junho de 2013

«em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura!»

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GGM ou GABO
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gosto tanto do subtítulo do meu blog. mas um dia terei de me despedir dele (e do prazer que foi ler memória das minhas putas tristes). vive já num recanto do meu ser um novo nome para um novo blog. só lhe falta o subtítulo. mas tão bom como este não será de certeza.
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terça-feira, 4 de junho de 2013

trahit sua quemque voluptas *

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que luta esta. sempre lenta, mas, uma a uma, as pedras do caminho vão-se avolumando e a construção vai-se compondo. a dedicação é que faz nascer a obra, não é deus, nem o sonho. agora vou-me a alimentar desta preciosidade (ó subalimentados do sonho!/a poesia é para comer), porque a paixão dedicada a esta obra merece toda a atenção.
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* cada qual se diverte à sua moda - virgílio (tradução do livro. há outra em inglês «Each man is led by his own taste»)
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segunda-feira, 3 de junho de 2013

maio

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livros
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(dois meses sem cinema. estou curado)
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