terça-feira, 23 de outubro de 2012

a importância de ser ernesto

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Na verdade, quando pensamos no Mal, pensamos de imediato nas guerras, torturas, violações, homicídios, cenários macabros que põem os nossos estômagos a andar à roda. Isso, porém, é o lado mais espectacular, digamos que o mais barroco do Mal. O Mal, o verdadeiro Mal, como um gás invisível e inodoro, começa num grãozinho da areia, num simples baguinho de arroz, quer dizer, na filha da putice do dia a dia, nas sacanices no local de trabalho, na política, nas vidas pessoais, nas amizades, no modo como os seres humanos, com o seu ar de inofensivos insectos, são capazes de prejudicar e fazer sofrer os outros, sem sentimento de culpa e compaixão. Muitas vezes, a diferença entre um carrasco que fica para a história e um filho da puta que toma café na mesa ao lado da nossa, é apenas uma questão de oportunidade.
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diz-se aqui, numa nova biografia publicada recentemente sobre a vida de ernesto guevara, que o ícone terá sofrido pela escolha do caminho da resistência armada. numa tentativa de registar uma visão um pouco mais humanista, a face menos discutida do homem, esta nova biografia ilustrará a dificuldade da tomada de decisão do rumo de um idealista (na peça de oscar wilde todos adoram ernesto, mas ninguém sabe quem ele é).
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a ténue fímbria que nos separa do resvalar para um caminho sem retorno, é algo que devemos ter bem presente, para evitar que nos tornemos no símbolo do mal (conforme a citação acima transcrita).
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pensava nisto há algum tempo, e estas referências acabam por balizar o devaneio mental, e os pensamentos sobre o caminho pessoal que devo escolher. se por um lado não acredito que a força armada consiga, nos dias de hoje, resolver os desvios da política - porque esta se rodeou dos reforços militares concentrados na defesa da democracia que eles criaram -, por outro lado penso que podemos dinamitar os alicerces nevrálgicos da teia e da rede que eles construíram.
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até à pouco pensava que se poderia lutar por dentro, contrariando, dando exemplos, uma espécie de reeducação pela tirania da ridicularização, expondo as faces podres de quem acha que ganha no individualismo, e expondo os que, inocentemente, se deixam emaranhar na corrente, na roda dentada que entrou na espiral centrífuga deitando fora os que agora não servem o sistema.
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tudo isto para dizer que ainda não sei como morder os pilares do sistema, sem me envolver num dilema moral. nem sei se, num resultado final concretizado, as pessoas livres saberiam qual o objectivo de terem sido libertas.
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sei que se encontrasse a solução andaria de boina.
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