quinta-feira, 14 de novembro de 2013

o belo e a consolação

.
.
Feliz aquele que administra sabiamente
a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias

.
Ruy Belo
.
.
Tendemos a eliminar tudo o que é mau da nossa vida. Eliminar o sofrimento, a dor, a perda, o medo, a raiva, os anseios, os choros, enfim a tristeza. Ao invés de aceitarmos toda a sombra de sobressai da nossa luz. Tudo isto não tem nada de esotérico. É apenas a aceitação da nossa composição. Ao compreendermos de que somos feitos de matizes diversas, aceitamo-nos com os nossos defeitos e isso permite sermos mais compreensivos com quem nos rodeia.
.
Esperar pelo sorteio e aceitar o que nos calhar na rifa. Tudo concorre para novas experiências.
.
.
(hiberno mais um pouco porque o as palavras azedam com este tempo)
.
.
 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

.
.
Em 1971, numa carta inédita a Ruy Belo que o JL publica, Sena escreve: «Trabalho... tenho muito para fazer e pouca vontade de tudo - a minha depressão e reduzida resistência concomitante dão-me tudo por inútil, quanto eu faça é para cair no poço da pulharia lusitana, o que não me dói por mim, mas pelo que sei que os meus ignorados contributos valem, ao lado da maioria dos arrotos nacionais.» Nestas, como em quase todas as matérias, não mudámos um átomo de 1977 para cá. A pulharia cresceu com os arrotos e os arrotos cresceram com a pulharia. Não saímos disto.
.
http://portugaldospequeninos.blogs.sapo.pt/3459452.html
.
.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

light in august

.
.
 photo 2013-08-30132034.jpg
 
.
(poço azul - gerês / agosto - 2013)
.
.
A minha maneira de amar-te é simples:
aperto-te a mim
como se tivesse um pouco de justiça no coração
e ta pudesse dar com o corpo
.
Quando te revolvo os cabelos
algo de lindo nasce das minhas mãos
.
E não sei quase mais nada. Aspiro apenas
a estar contigo em paz e a estar em paz
com um dever desconhecido
que às vezes me pesa também no coração
.
.

Antonio Gamoneda
.
.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

no more i love youth

.
.
não havendo assunto, não havendo mais que umas miudezas de sobra, não havendo sinal demiúrgico da existência, sobra a rede. um poema e um vídeo-poema.
.
.
.
.
[...] Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteia em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebal
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37º centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se se fechar os olhos
Ao abri-los ela não mais estará presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.
.
.
vinicius de moraes
.
.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

viverei do ocaso

.
De tanto olhar o sol,
queimei os olhos,
De tanto amar a vida enlouqueci.
Agora sou no mundo esta negrura.
À procura
Da luz e do juízo que perdi.
.
Miguel Torga

.
.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

morning glory

.
.
“Morning, noon & bloody night,
Seven sodding days a week,
I slave at filthy WORK, that might
Be done by any book-drunk freak.
This goes on until I kick the bucket.
FUCK IT FUCK IT FUCK IT FUCK IT”
.
― Philip Larkin, Philip Larkin: Letters to Monica
 .
.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

i like the way you move

.
.
“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”. 
.
Amyr Klink
.
.
.
.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

whispers

.
.
.
.
.
a minha amiga das cartas enviou-me uma carta. e lembro-me sempre da velocidade com que vou perdendo a capacidade de me surpreender. por agora, júbilo.
.
.
e tu, há quanto tempo não recebes uma carta?
(bem visto, uma daquelas que não seja para pagar as contas)
.
.

terça-feira, 9 de julho de 2013

o jogo dos opostos

.
.
Porque quero eu isto,
quando ainda esta noite
me assustaste no meu sono?
.
Ezra Pound - O Livro de Hilda
.
.
ainda esta noite invadiste o meu sonho.
.
já não entendo a ordem das coisas. não posso aceitar que venhas nestas noites sussurrar-me ao ouvido os erros do passado, como se tudo te fosse permitido, sem que eu possa contrariar os teus gestos, que de tão lentos me paralisam. e pudesse eu dizer-te das miríades de vidas que a toda a hora se perdem e se esfumam a cada escolha que fazemos. não posso permitir que me acenes com a outra vida que não tive.
.
.
(desculpa se te usei
como refúgio dos meus sentidos
pedaço de silêncio dos perdidos
.
.
que refúgio encontro no desconsolo de não ter tido um azar? pudesse eu falar-te quando me visitas nos sonhos e te diria que também eu quis ter azar. que também eu quis ter a outra vida. que por menos fulgor me daria em partes inteiras. que todos os dias esbarríamos nas escadas íngremes do insucesso, e que mesmo assim te faria sorrir. que não chorarias como naquela maré, como naquela juventude temendo o futuro abrupto.
.
.
(mais um dia em vão
no jogo em que ninguém ganhou)
.
.
e mesmo sem saberes tiveste a vida toda.
.
para mim foi só mais uma noite em vão, no jogo em que eu não ganhei.
.
.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

sábado foi um dia bonito

.
.
sábado foi um dia bonito.
.
quando o tempo nos abraça na tranquilidade, e o espaço à nossa volta se reacende e nos devolve vida, ou vivacidade, subtilmente voltamos a acreditar. nunca acreditei no esoterismo, mas antes na propensão do ser humano para a aprendizagem do sentir. uma evolução natural como um amadurecimento, um fruto na árvore a absorver os seus nutrientes e a adocicar-se.
.
(a minha amiga das cartas diz-me que estamos todos ligados como árvores. acredito, com sábados destes, bonitos)
.
e eu devo acreditar nas forças das sequências imprevisíveis, a cada acção se repete reacção e por aí adentro vamos ao âmago, ao nosso pulsar mais silencioso, e ao virarmo-nos do avesso expor de novo a pele ao sentir. como se tudo em nossa volta estivesse em baixa frequência, sinais e comunicações pacifistas.
.
ah, se não existe gente boa, lugares bons, círculos livres da dependência do mundo tóxico, pura energia enquadrada nos corredores selvagens do nosso peito. e ao virar o copo de pernas para o ar, começar a beber do seu fundo, deitar fora o excesso.
.
(recebo um telefonema enquanto escrevo isto, a reforçar a função da energia vital)
.
seduz-me a ideia de que só vivemos uma vez. o tempo só se esgota na justa medida do nosso afastamento, e a morte é só uma linha de horizonte imperceptível. por isso o sábado foi um dia bonito, não tinha horizonte.
.
.
 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

quinta-feira, 27 de junho de 2013

eis o hino

.
.
.
.
eis o hino da esperança. mais uma luta com renovada e inspiradora motivação. alea jacta est.
.
.

terça-feira, 25 de junho de 2013

questo e' l'ombelico del mondo

.
.
É incrível a liberdade que um homem ganha no dia em que é capaz de reduzir as suas ambições.
.
.
.
vou procurando desnatar a vida. já não me preocupo que ela azede por vezes. não haveremos de ter mais retorno só por nos preocuparmos apenas com a procura do que se apelida de felicidade. as convulsões emocionais só têm um sentido, tal como nunca choverá do chão para o céu.
.
(sempre estes conceitos herméticos)
.
.
reli alguns textos antigos e sinto-me cada vez mais envergonhado com a lentidão da evolução da qualidade do que debito em letra (felizmente com menor frequência). servir-me-ia muito mais apenas sorrir ao ouvir as estórias que me contam, e nos momentos que vivo. como se o silêncio fosse o garante de que os contornos da realidade fossilizassem no imediato.
.
.
(e no entanto persisto em escrever estas atoardas)
.
.
não me será difícil conquistar o último bastião. a plena liberdade da não-dependência. a ambição final de nada querer possuir. nada material me serviu a contento, e, se mesmo assim a última quimera - o desejo único de possuir a pedra filosofal, o querer em redoma um objecto-amor - se mesmo assim se confirmar ser impossível possuir pouco, então esse será o dia do triunfo.
.
.
(saltar do cavalo e deixar de perseguir moinhos de vento ou dulcineias)
.
.
liberto dessa última ambição, restar-me-á a terra. e a cada apelo à natureza ouvir o pulsar do cordão umbilical.
.
.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

domingo, 23 de junho de 2013

misantropia amputada

.
.
reservo-te o amor futuro
como se antecipada visses roubar-me este mel
a arte e a vista da minha janela.
.
disponho-me sobre os lírios
como se antecipasse o teu amanhacer
e os orvalhos estendidos na paisagem
.
é que nesta tela só tu és um espaço em branco.
.
.

sábado, 22 de junho de 2013

don't look back in anger (II)

.
.
oiço os velhos. como se fosse um rigoroso e atencioso sr. sammler, este velho amigo já esteve em armação de pêra. 1979. deus é sempre grande, mas garanto que as mudanças que ocorreram em portugal nos últimos anos são bem maiores.
.
.
(quem não sabe escutar os velhos não sabe ler uma história bem contada)
.
.
diz-me que naquele tempo escasseava tudo. não havia lojas, nem mercados, nem shoppings, nem bares. apenas tascos e pequenos cafés. havia filas intermináveis para se comprarem os bens mais essenciais (até a água escasseava nas torneiras, ou sabia a sal!). era um agosto intenso, um algarve que valia aquele sacrifício. diz-me que era mais pelas crianças e que as suas alegrias compensavam as longas viagens (noites inteiras para chegar ao sul, sem esquecer que depois de alcácer do sal não havia mais bombas de gasolina e tinha de levar o leite em pó).
.
.
(a nacional 2 tinha um betuminoso rugoso de semi-penetração - é engenheiro este sammler, aplica-se na arte e na explicação)
.
.
não havia uma viagem que não tivesse um furo ou uma necessidade de recorrer ao kit de reparação rápida, e toda a gente percebia um pouco de mecânica. havia muitos acidentes porque não havia auto-estrada para lisboa, nem para o algarve. o tormento era amenizado pela garantia de que o sol não se absolveria de ditar a temperatura certa.
.
.
(vou sorrindo porque mal consigo imaginar como seriam os finais de 70, povo renascido da revolução e do fmi, cavalgando na promessa de uma vida melhor)
.
.
termina dizendo que a dada altura desisitiu do algarve porque era mais barato ir para o sul de frança. passar férias em parques de campismo da europa na sua caravana. conto-lhe que ainda se continua bem em armação de pêra. que nada escasseia. nem bares, nem lojas, nem dinheiro.
.
.
(será sempre o meu destino favorito)
.
.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

don't look back in anger

.
.
rumorejam ondas ao embalo do encanto do planeta do sr. sammler. as gaivotas rasam planas por sobre os barcos que chegam da pesca. a luz natural reflecte-se nos parágrafos densos da escrita de saul bellow. lê-lo mais uma vez é como voltar a casa, àquela voz familiar, àquelas meditações profundas, àqueles ditames quase bíblicos.
.
.
(philip roth dizia que o seu amigo saul bellow escreveu sempre o mesmo livro, e que bastaria estar atento para perceber isso)
.
.
o sr. sammler é um velho judeu (sempre eles) que viveu em londres e na polónia da 2ª grande guerra mundial. assiste depois à decadência da nova iorque dos loucos anos 60 (desta vez não é chicago, mas o pano de fundo são os mesmo bairros inseguros) e reflete sempre sobre o conflito de gerações e o desvanecer dos valores éticos, a falta de visão de futuro da juventude, a sua falta de respeito pela sabedoria dos mais velhos, os seus prazeres imediatos, a sociedade do hiper-consumo (qual lipovetsky emancipado) e os barcos atracando em armação de pêra.
.
.
(a realidade e a ficção entrecortando-se, o ruído da cidade e areia da praia no mesmo plano metafísico, metro e motas de água no mesmo plano visual)
.
.
é mais leve a apreensão das mensagens quando estamos tranquilos. nenhuma descrição cruel de uma cena no livro nos afecta tanto com aquele tempo maravilhoso, somos livres do mundo, estamos fora do alcance da grande mão destruidora de infinitas possibilidades da lei de murphy. e no entanto condoemo-nos das injustiças, e os nossos olhos desviam-se de repente para os destinos destas pessoas sorridentes que se divertem. há um final mais ou menos desastroso para cada um, e felizmente ninguém se detém nesse pormenor.
.
.
(saul bellow nunca é um misantropo, nem muito pessimista, tem apenas a realidade e a infinita sabedoria dos grandes filósofos, que nunca se angustiam perante os sucedâneos da idade vetusta)
.
.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

mess

.
.
vou compreendendo as passagens mais estranhas de murakami, os loucos e desconexos trechos de livros como aquelas da crónica do pássaro de corda. há sempre gatos (mas isso há em todos), e há sempre pessoas desaparecidas, num novelo sem fim, numa narrativa que não se fecha, deixando-nos algumas vezes a pensar onde terá ido parar aquela personagem tão simpática. e depois há a destruição da tridimensionalidade das personagens, como se fosse possível imaginar aquela gente imaginada tornar-se real, e, depois delas se materializarem, o autor fazer-nos sofrer na pele a travessia de paredes e as angústias físicas da certas aventuras.
.
.
mas o que mais impressiona neste livro é talvez o prazer inexplicável de um personagem que desce ao fundo de um poço, e lá dentro se deixa ficar a passar horas a fio. em meditação, analisando a sua vida, buscando explicações para a realidade no local menos propício.
.
.
mas, como dizia, começo a perceber melhor estas passagens. não haverá como bater no fundo, como chegar ao resto dos nossos dias, como se descer lá e buscar os pedaços de vida que vamos largando, fosse a solução para construir um novo futuro. como se colando essas porções de passado estivéssemos preparados para ouvir com mais clareza. e nesse fundo de poço estaríamos mais calmos, ouvindo o coração da terra, pressentindo a luz escassear e ao mesmo tempo ver com mais sanidade.
.
.
talvez a questão de fundo seja apenas uma, sair desse poço é uma opção pessoal. mesmo que o medo de descobrirmos o nosso eu mais profundo nos paralise.
.
.
 

terça-feira, 18 de junho de 2013

ways to say goodbye

.
.
rumei ao sul de comboio, rasgando paisagens de imagens sobrepostas na correria. foi a primeira vez que atravessei o país inteiro, norte a sul como uma centrífuga que mistura a meteorologia e nos devolve o sol.
.
.
(não há forma de esquecer certos vícios da memória, as imagens que marcam mais que uma fotografia)
.
.
depois da rusga encarrilhada ao espírito aventureiro, chega a luz, e o calor. chegam as praias de manhã fresca, de corridas duras e arrastadas, de lutas contra a rotina, das bolas de creme, dos livros salpicados de areia, do cheiro da pele com bronzeador, de mulheres semi-nuas, das guitarras (ah, sim como vão longe as mundos que desabito), das promessas de vitalidade, do pôr-do-sol, as loiras, a orografia revisitada, a brisa suspirada pelas ondas, os acidentes naturais, e todos os cheiros, sons e sabores.
.
.
(acordar nestes dias parece-se com o milagre da devolução da juventude)
.
.
e à noite as luzes da rua, com miríades de pessoas em processo de ebulição, o verão em ponto-de-partida, as bebidas, os sorrisos, as gerações em osmose permanente, os aromas fugazes, os sonhos, a lua-pomes, os olhos claros em raides sedutores, o juízo final em festa, uma espécie de apocalipse em simulacro, a esperança do salto no escuro do amor.
.
.
(como podemos estar tão deslocados do mundo, e esperar nele a ressurreição da alma-poeta?)
.
.
mas mais tarde há a ressaca, o regresso, a agonia de um ritmo cardíaco a acelerar, o castigo do corpo pelos pecados do sonho, o túnel que se fecha e desliga a luz na nossa passagem, o novo dia-a-dia que suspende a emoção, a máscara que esconde a alegria de uma perda inevitável.
.
.
(mas o que fica é sempre maior que a memória)
.
.
 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

«we read, we travel, we become» *

.
.
.
.
Caminho com o sol e com a chuva
Caminho com a escuridão e com a estrada
Os pinheiros e os regatos as pedras e a paisagem
caminham comigo incessantemente
e levemente também eles soçobram
também eles deixam as suas pegadas
onde a poeira levanta e nunca baixa
onde, diz-se, todos os encontros se dão
E como se tocasse a todos encontrar-se
continuamos a procurar-nos como cães de caça
Por isso de lama e amor se faz a caminhada
e na estrada o vestido pesando quase nada sinaliza o corpo
como uma bandeira sinaliza a paz durante a guerra
e eu libertando-me a pouco e pouco da bagagem

libertando-me a pouco e pouco da tua miragem
vou perdida e encontrada na berma do sol.
.
.
ana salomé
.
.

* título roubado daqui.
.
.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

«em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura!»

.
.
.
.
GGM ou GABO
.
.
gosto tanto do subtítulo do meu blog. mas um dia terei de me despedir dele (e do prazer que foi ler memória das minhas putas tristes). vive já num recanto do meu ser um novo nome para um novo blog. só lhe falta o subtítulo. mas tão bom como este não será de certeza.
.
.

terça-feira, 4 de junho de 2013

trahit sua quemque voluptas *

.
.
.
.
.
que luta esta. sempre lenta, mas, uma a uma, as pedras do caminho vão-se avolumando e a construção vai-se compondo. a dedicação é que faz nascer a obra, não é deus, nem o sonho. agora vou-me a alimentar desta preciosidade (ó subalimentados do sonho!/a poesia é para comer), porque a paixão dedicada a esta obra merece toda a atenção.
.
.
* cada qual se diverte à sua moda - virgílio (tradução do livro. há outra em inglês «Each man is led by his own taste»)
.
.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

maio

.
.
livros
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
(dois meses sem cinema. estou curado)
.
.


quarta-feira, 22 de maio de 2013

como pensar mais sobre sexo (alain de boton)


.
pedem-me citações. explicações sobre o que leio. só posso dar as do último livro que li. mais um pouco e sairia algo mais interessante, como o poder do oculto, os cultos dos mortos, a idade média. mas, bem vistas as coisas, talvez o sexo seja um assunto transversal no tempo.
.
.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

o grande ditador é o tempo

.
.
- ao pé de ti todos parecem amadores.
- no fim seremos todos amadores.
  não viveremos tempo suficiente para sermos mais que isso.
.
.
.
.


quarta-feira, 15 de maio de 2013

o libertino (de braga) passeia-se por londres

.
.
.
.
entrei numa loja de souvenirs. não era muita a vontade de gastar mais dinheiro, mas a música que estava a tocar deixou-me indefeso. bem puxei pela memória, tentando identificar onde teria eu escutado a música, e no entanto o meu impulso foi tão descontrolado que tive de me render à impulsividade. não consegui perceber qual era a almofada que me embalava naquele som.
.
.
 
.
.
mais tarde, já talvez no aeroporto de stansted, lembrei-me. já a tinha publicado aqui. e fiquei feliz porque uma simples loja de lembranças, em frente ao british museum, pode levar-nos de londres a casa em poucos segundos. o resto foram boas lembranças.
.
.

terça-feira, 14 de maio de 2013

a year is just a year

.
.

.
.
perdoem a minha memória, mas roubei-o de algum sítio que não me lembro. mas era o ideal para a data.
.
.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

segunda-feira, 29 de abril de 2013

a rapariga que murakami enviou ao workshop

.
.
.
.
comer frango assado, no restaurante martins, com o escritor joão tordo, a um domingo.
nem a melhor ficção seria capaz de tamanha inverosimilhança.
.
.