quinta-feira, 20 de junho de 2013

mess

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vou compreendendo as passagens mais estranhas de murakami, os loucos e desconexos trechos de livros como aquelas da crónica do pássaro de corda. há sempre gatos (mas isso há em todos), e há sempre pessoas desaparecidas, num novelo sem fim, numa narrativa que não se fecha, deixando-nos algumas vezes a pensar onde terá ido parar aquela personagem tão simpática. e depois há a destruição da tridimensionalidade das personagens, como se fosse possível imaginar aquela gente imaginada tornar-se real, e, depois delas se materializarem, o autor fazer-nos sofrer na pele a travessia de paredes e as angústias físicas da certas aventuras.
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mas o que mais impressiona neste livro é talvez o prazer inexplicável de um personagem que desce ao fundo de um poço, e lá dentro se deixa ficar a passar horas a fio. em meditação, analisando a sua vida, buscando explicações para a realidade no local menos propício.
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mas, como dizia, começo a perceber melhor estas passagens. não haverá como bater no fundo, como chegar ao resto dos nossos dias, como se descer lá e buscar os pedaços de vida que vamos largando, fosse a solução para construir um novo futuro. como se colando essas porções de passado estivéssemos preparados para ouvir com mais clareza. e nesse fundo de poço estaríamos mais calmos, ouvindo o coração da terra, pressentindo a luz escassear e ao mesmo tempo ver com mais sanidade.
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talvez a questão de fundo seja apenas uma, sair desse poço é uma opção pessoal. mesmo que o medo de descobrirmos o nosso eu mais profundo nos paralise.
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