sexta-feira, 21 de junho de 2013

don't look back in anger

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rumorejam ondas ao embalo do encanto do planeta do sr. sammler. as gaivotas rasam planas por sobre os barcos que chegam da pesca. a luz natural reflecte-se nos parágrafos densos da escrita de saul bellow. lê-lo mais uma vez é como voltar a casa, àquela voz familiar, àquelas meditações profundas, àqueles ditames quase bíblicos.
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(philip roth dizia que o seu amigo saul bellow escreveu sempre o mesmo livro, e que bastaria estar atento para perceber isso)
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o sr. sammler é um velho judeu (sempre eles) que viveu em londres e na polónia da 2ª grande guerra mundial. assiste depois à decadência da nova iorque dos loucos anos 60 (desta vez não é chicago, mas o pano de fundo são os mesmo bairros inseguros) e reflete sempre sobre o conflito de gerações e o desvanecer dos valores éticos, a falta de visão de futuro da juventude, a sua falta de respeito pela sabedoria dos mais velhos, os seus prazeres imediatos, a sociedade do hiper-consumo (qual lipovetsky emancipado) e os barcos atracando em armação de pêra.
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(a realidade e a ficção entrecortando-se, o ruído da cidade e areia da praia no mesmo plano metafísico, metro e motas de água no mesmo plano visual)
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é mais leve a apreensão das mensagens quando estamos tranquilos. nenhuma descrição cruel de uma cena no livro nos afecta tanto com aquele tempo maravilhoso, somos livres do mundo, estamos fora do alcance da grande mão destruidora de infinitas possibilidades da lei de murphy. e no entanto condoemo-nos das injustiças, e os nossos olhos desviam-se de repente para os destinos destas pessoas sorridentes que se divertem. há um final mais ou menos desastroso para cada um, e felizmente ninguém se detém nesse pormenor.
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(saul bellow nunca é um misantropo, nem muito pessimista, tem apenas a realidade e a infinita sabedoria dos grandes filósofos, que nunca se angustiam perante os sucedâneos da idade vetusta)
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