sábado, 22 de junho de 2013

don't look back in anger (II)

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oiço os velhos. como se fosse um rigoroso e atencioso sr. sammler, este velho amigo já esteve em armação de pêra. 1979. deus é sempre grande, mas garanto que as mudanças que ocorreram em portugal nos últimos anos são bem maiores.
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(quem não sabe escutar os velhos não sabe ler uma história bem contada)
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diz-me que naquele tempo escasseava tudo. não havia lojas, nem mercados, nem shoppings, nem bares. apenas tascos e pequenos cafés. havia filas intermináveis para se comprarem os bens mais essenciais (até a água escasseava nas torneiras, ou sabia a sal!). era um agosto intenso, um algarve que valia aquele sacrifício. diz-me que era mais pelas crianças e que as suas alegrias compensavam as longas viagens (noites inteiras para chegar ao sul, sem esquecer que depois de alcácer do sal não havia mais bombas de gasolina e tinha de levar o leite em pó).
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(a nacional 2 tinha um betuminoso rugoso de semi-penetração - é engenheiro este sammler, aplica-se na arte e na explicação)
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não havia uma viagem que não tivesse um furo ou uma necessidade de recorrer ao kit de reparação rápida, e toda a gente percebia um pouco de mecânica. havia muitos acidentes porque não havia auto-estrada para lisboa, nem para o algarve. o tormento era amenizado pela garantia de que o sol não se absolveria de ditar a temperatura certa.
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(vou sorrindo porque mal consigo imaginar como seriam os finais de 70, povo renascido da revolução e do fmi, cavalgando na promessa de uma vida melhor)
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termina dizendo que a dada altura desisitiu do algarve porque era mais barato ir para o sul de frança. passar férias em parques de campismo da europa na sua caravana. conto-lhe que ainda se continua bem em armação de pêra. que nada escasseia. nem bares, nem lojas, nem dinheiro.
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(será sempre o meu destino favorito)
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