terça-feira, 9 de julho de 2013

o jogo dos opostos

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Porque quero eu isto,
quando ainda esta noite
me assustaste no meu sono?
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Ezra Pound - O Livro de Hilda
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ainda esta noite invadiste o meu sonho.
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já não entendo a ordem das coisas. não posso aceitar que venhas nestas noites sussurrar-me ao ouvido os erros do passado, como se tudo te fosse permitido, sem que eu possa contrariar os teus gestos, que de tão lentos me paralisam. e pudesse eu dizer-te das miríades de vidas que a toda a hora se perdem e se esfumam a cada escolha que fazemos. não posso permitir que me acenes com a outra vida que não tive.
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(desculpa se te usei
como refúgio dos meus sentidos
pedaço de silêncio dos perdidos
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que refúgio encontro no desconsolo de não ter tido um azar? pudesse eu falar-te quando me visitas nos sonhos e te diria que também eu quis ter azar. que também eu quis ter a outra vida. que por menos fulgor me daria em partes inteiras. que todos os dias esbarríamos nas escadas íngremes do insucesso, e que mesmo assim te faria sorrir. que não chorarias como naquela maré, como naquela juventude temendo o futuro abrupto.
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(mais um dia em vão
no jogo em que ninguém ganhou)
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e mesmo sem saberes tiveste a vida toda.
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para mim foi só mais uma noite em vão, no jogo em que eu não ganhei.
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