sexta-feira, 19 de julho de 2013

whispers

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a minha amiga das cartas enviou-me uma carta. e lembro-me sempre da velocidade com que vou perdendo a capacidade de me surpreender. por agora, júbilo.
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e tu, há quanto tempo não recebes uma carta?
(bem visto, uma daquelas que não seja para pagar as contas)
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terça-feira, 9 de julho de 2013

o jogo dos opostos

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Porque quero eu isto,
quando ainda esta noite
me assustaste no meu sono?
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Ezra Pound - O Livro de Hilda
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ainda esta noite invadiste o meu sonho.
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já não entendo a ordem das coisas. não posso aceitar que venhas nestas noites sussurrar-me ao ouvido os erros do passado, como se tudo te fosse permitido, sem que eu possa contrariar os teus gestos, que de tão lentos me paralisam. e pudesse eu dizer-te das miríades de vidas que a toda a hora se perdem e se esfumam a cada escolha que fazemos. não posso permitir que me acenes com a outra vida que não tive.
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(desculpa se te usei
como refúgio dos meus sentidos
pedaço de silêncio dos perdidos
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que refúgio encontro no desconsolo de não ter tido um azar? pudesse eu falar-te quando me visitas nos sonhos e te diria que também eu quis ter azar. que também eu quis ter a outra vida. que por menos fulgor me daria em partes inteiras. que todos os dias esbarríamos nas escadas íngremes do insucesso, e que mesmo assim te faria sorrir. que não chorarias como naquela maré, como naquela juventude temendo o futuro abrupto.
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(mais um dia em vão
no jogo em que ninguém ganhou)
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e mesmo sem saberes tiveste a vida toda.
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para mim foi só mais uma noite em vão, no jogo em que eu não ganhei.
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quinta-feira, 4 de julho de 2013

sábado foi um dia bonito

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sábado foi um dia bonito.
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quando o tempo nos abraça na tranquilidade, e o espaço à nossa volta se reacende e nos devolve vida, ou vivacidade, subtilmente voltamos a acreditar. nunca acreditei no esoterismo, mas antes na propensão do ser humano para a aprendizagem do sentir. uma evolução natural como um amadurecimento, um fruto na árvore a absorver os seus nutrientes e a adocicar-se.
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(a minha amiga das cartas diz-me que estamos todos ligados como árvores. acredito, com sábados destes, bonitos)
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e eu devo acreditar nas forças das sequências imprevisíveis, a cada acção se repete reacção e por aí adentro vamos ao âmago, ao nosso pulsar mais silencioso, e ao virarmo-nos do avesso expor de novo a pele ao sentir. como se tudo em nossa volta estivesse em baixa frequência, sinais e comunicações pacifistas.
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ah, se não existe gente boa, lugares bons, círculos livres da dependência do mundo tóxico, pura energia enquadrada nos corredores selvagens do nosso peito. e ao virar o copo de pernas para o ar, começar a beber do seu fundo, deitar fora o excesso.
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(recebo um telefonema enquanto escrevo isto, a reforçar a função da energia vital)
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seduz-me a ideia de que só vivemos uma vez. o tempo só se esgota na justa medida do nosso afastamento, e a morte é só uma linha de horizonte imperceptível. por isso o sábado foi um dia bonito, não tinha horizonte.
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segunda-feira, 1 de julho de 2013