quinta-feira, 28 de junho de 2012

oh, não há título para isto

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[...]
E nos sete anos seguintes
escrevi-lhe mais de quatrocentas cartas,
dei-lhe um anel de dez guinéus
que ela me devolveu no fim, e levei-a
a inúmeras cidades com catedral
que nem o clero conhecia. Julgo que revi
a beldade umas duas vezes. De ambas
ela tentou (achei eu) não se rir de mim.
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A separação, depois de cinco
tentativas, deu-se quando concordámos
que eu era demasiado egoísta e introvertido
e fácil de aborrecer para amar alguém.

Foi útil saber isso.
[...]
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Philip Larkin
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roubado daqui
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há hoje uma moral de máquina que sobressai. há a moral da técnica. segundo o gonçalo m. tavares. a moral humana definha amiúde nos passos que damos nesta desafinação do amor. a moral que sobressai e se impõe é do técnico certinho, cumpridor, asséptico e higienizador dos ambientes sociais. o que pede para as pessoas falarem baixinho. sem dizer palavrões.
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no amor caminhamos, já depois da individualização, para a automação. processos descritos passo a passo em todo o lado, a máquina em vórtex. a natureza, a moral do bom e do mau, a escala de valores, dos valores sem catecismos (não vá haver essa confusão), e os limites da avaliação, do julgamento sumário, estão cada vez mais em amálgama, sufragados cada dia às mãos dos distraídos que se encantam com as maravilhas pós-modernas.
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e confunde-se tudo com a liberdade. ou a limitação dela. como se fosse sufoco a atenção de uns olhos apaixonados.
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que saudades tenho do tempo em que escrevia cartas de amor apaixonadas.
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3 comentários:

  1. Agora que penso nisso, nunca escrevi nenhuma carta apaixonada.
    Acho que não precisei de tentar para saber o que o do poema ficou a saber. Não faço ideia se sou menos feliz por isso, mas até se vive bem assim.

    Adorei o que escreveste.

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  2. oh...obrigado.

    não escrevi muitas cartas, porque o tempo que mediou a maturidade e as novas tecnologias, não foi muito. quem, como eu, escreveu algumas cartas, apaixonadas ou não, resistiu a tudo, telemóveis, blogs, facebook, etc... (até perceber que não havia outra solução :)

    tinha algumas cartas que deitei fora por causa de uma namorada ciumenta. tenho pena disso.

    obrigado ;)

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  3. Eu resisti a isso tudo, tanto que um dos meus melhores amigos fi-lo e mantive-o por carta durante 4 ou 5 anos. Até que chegou a namorada ciumenta. Agora resta-me o vazio no Apartado. É a vida. Beijinho

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